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Práticas e experiências contra racismo e sexismo foram debatidas em ‘3º Seminário Biopolíticas e Mulheres Negras’
"A invisibilidade mata”. Dita na abertura do ‘3º Seminário Biopolíticas e Mulheres Negras’, na manhã de ontem, dia 24, a frase, da promotora de Justiça coordenadora dos Grupos de Atuação Especial de Defesa dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) e em Defesa da Mulher (Gedem), Lívia Vaz, revela a importância de tornar conhecidas as opressões e os problemas enfrentados pelas mulheres negras como forma de dar origem a novas políticas públicas que reduzam essa desigualdade e atendam essas demandas. O evento busca visibilizar o 'Dia Internacional da Mulher Afro-Latino Americana e Afro-Caribenha', comemorado hoje, dia 25 de julho. Coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (Caodh), a promotora de Justiça Márcia Teixeira destacou a importância do seminário em apresentar as principais práticas e experiências no combate ao racismo e ao sexismo. “Esse é um espaço de compartilhamento, a um só tempo, de dores e saberes. É um momento de estarmos juntas e pensarmos estratégias para enfrentar a discriminação e a violência institucional”, destacou Márcia Teixeira, salientando que o país vive hoje um retrocesso em relação a avanços sociais. “É um momento de reconstrução”, frisou ela.
A palestra de abertura foi ministrada pela escritora e jornalista Eliana Alves, autora do livro ‘Água de Barrela’, premiado pela Fundação Palmares. Através da obra, que conta a trajetória da sua família de 1849 aos dias atuais, a escritora falou sobre o processo de resgate do direito da mulher negra de falar de si mesma, contar sua própria história. “A mulher negra precisa readquirir o protagonismo nessa narrativa”, destacou, apontando que, ao longo da história, as negras foram vítimas de controle pelo estado. O pano de fundo da obra é a história do Brasil entre o final da escravidão e o início da república velha. “Quando estudamos essa fase da história nas obras tradicionais, a impressão que se tem é que a população negra, sobretudo as mulheres, não detinham qualquer protagonismo, sendo pouco mais que meras marionetes. No entanto, ao me debruçar sobre a história da minha família, pude detectar uma realidade diferente, de busca por protagonismo”. Embora inseridas num sistema escravocrata marcado pela desigualdade e pela crueldade, as pessoas negras, afirma a escritora, montavam estratégias para gerir seus destinos. “No caso da minha família, o caminho foi a educação. Meus ancestrais criaram elos com a família que escravizara nossa própria família para assegurar às gerações futuras acesso a escolas e universidades, bem como a todo um repertório cultural”, destacou Eliana. “Há muitas histórias semelhantes a essa”, pontuou.
O racismo institucional e as mulheres negras no sistema de Justiça foi o tema abordado pela promotora de Justiça Lívia Vaz. “A nossa sociedade possui uma hierarquização racial das pessoas que se reflete nas políticas públicas e no próprio sistema de Justiça, não atendendo aos anseios de combate ao racismo e à desigualdade racial, impedindo a promoção da igualdade”. A promotora afirmou que há 130 anos a Lei Áurea declarou uma abolição que não se reflete na realidade do povo negro. “Se considerarmos a abolição como a emancipação das pessoas, enquanto liberdade autêntica, nós vemos que as pessoas negras ainda não têm isso, principalmente as mulheres negras”. A promotora de Justiça afirmou ainda que as mulheres negras estão na base da pirâmide social brasileira e são as maiores vítimas de violência doméstica familiar, feminicídio, violência obstétrica e mortalidade materna. “Todas essas formas de violência, que vulnerabilizam a mulher negra na nossa sociedade, resultam de opressões sobrepostas: o racismo e a violência de gênero. É preciso combater isso”, concluiu, salientando que é preciso ocupar os espaços de poder. O evento abordou ainda os temas ‘Interseccionalidades’ e ‘Saúde da Mulher Negra’ e contou com intervenções culturais do Coletivo Zeferinas, do grupo musical Ilê Aiyê e da drag queen em performance artística Ferah Sunshine.
Fotos: Erik Salles (Rodtag)
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