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Educadora defende que creches sejam espaços educativos sem assistencialismos
Educadora defende que creches sejam
espaços educativos sem assistencialismos
A definição de que uma creche é um espaço assistido para o cuidado de bebês e crianças até três anos, que ainda não têm idade para frequentar o maternal-escola, merece uma reflexão no entender da mestra em educação e doutoranda em Difusão do Conhecimento, Flávia Damião. Segundo ela, que foi a palestrante de hoje, dia 07, do projeto “Diálogo dos Saberes”, do Ministério Público estadual, embora já se registre algum avanço, a instituição creche, em muitos casos, ainda funciona sob a ótica do assistencialismo, principalmente quando seus serviços são públicos e dirigidos às crianças negras e pobres, que não têm sido tratadas como um sujeito de direitos.
Professora da creche da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Flávia falou sobre o surgimento das creches no Brasil, acompanhando a estruturação do capitalismo e a necessidade de reprodução da força do trabalho, descendo a detalhes sobre seus propósitos, sua base legal que vem saindo aos poucos do plano da assistência social. Entre os avanços, cita a edição do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a LDB da Educação Nacional, que definiram que as creches são para crianças de 0 a 3 anos de idade e as pré-escolas para crianças de 4 a 6 anos de idade, lembrando que o termo creche sempre esteve vinculado a um serviço oferecido à população de baixa renda. Apesar dos avanços, ela diz que ainda existem dificuldades de acesso com qualidade ao público, sendo necessária a descolonização dos conhecimentos em torno dessa instituição.
Reforçando sua preocupação em descolonizar os conhecimentos das crianças, a mestranda do programa de pós-graduação em Literatura e Cultura da UFBA, Mel Adún, que também participou do Diálogos dos Saberes na manhã de hoje, tratou sobre a descolonização das mentes das crianças no que se refere à literatura infantil que chega até elas, notadamente as afrodescendentes. Citando como exemplo a filha de quatro anos, diz ser difícil para a menina entender que não necessariamente as princesas têm cabelos longos e que precisam de um príncipe para libertá-las. Integrante do Coletivo Literário Ogum’s Toques Negros, ajudou a organizar uma coletânea e está participando de uma campanha que busca consolidar a editora do Coletivo, permitindo o lançamento de 10 livros ainda este ano, o que, a seu ver, permitirá que dispute o mercado junto com outras editoras.
A mestranda, também formada em jornalismo, acha importante que os livros dirigidos às crianças tratem da questão da discriminação, mas defende que as publicações não sejam apenas didáticas. “Têm que ser lúdicas.” A literatura dirigida a esse segmento é equivocada a seu ver, pois as crianças precisam sonhar, brincar e pensar. Explica que a primeira tarefa do pensar é imaginar e o que se vê é a publicação de muito livro didático. “Minha briga é pela equidade, pela igualdade. Um país sem racismo é um país muito mais rico.”
Foto: Ceaf
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