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Audiência pública discute alteração de nome de rua do Pelourinho em homenagem a Alaíde do Feijão
O Ministério Público estadual promoveu na manhã desta quarta-feira, dia 30, na sede da Instituição em Nazaré, uma audiência pública para discutir a mudança de nome da Rua das Laranjeiras que passou a se chamar desde julho deste ano ‘Rua Alaíde do Feijão’, em homenagem a cozinheira especialista na culinária afro-baiana reconhecida internacionalmente Alaíde do Feijão. “Nosso objetivo é discutir o processo de alteração do nome da rua tombada pelo Instituto do Patrimônio e Artístico Cultural (Iphan), que foi viabilizado por meio da publicação da lei aprovada e sancionada em julho deste ano, sem diálogo com a comunidade. Essa audiência servirá ainda para que os próprios vereadores entendam a importância de se discutir com a sociedade e a família da senhora Alaíde, que representa a rica cultura dos quitutes de Salvador”, destacou a promotora de Justiça Eduvirges Ribeiro, coordenadora do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Nudephac).
Ela complementou ainda que a audiência teve a finalidade de garantir a participação popular no processo de denominação, renomeação de espaços e bens públicos, que se desenvolve de forma dinâmica e associada a questões históricas e culturais.
Para Patrick Nunes, técnico do Iphan, é importante que seja garantido franco acesso da sociedade à mudança de nomes de bens públicos. “Trata-se de uma rua de extrema importância reconhecida como patrimônio da humanidade pela Unesco. Por isso recomendamos a realização de audiência pública para garantir a efetiva participação popular”, destacou. O procedimento instaurado pelo MP partiu da uma representação feita pela Associação de Assistência e Apoio aos Moradores do Centro e Adjacências – Nazaré II (AAAMCA), que se posicionou contra a mudança do nome da antiga Rua das Laranjeiras. Segundo o representante da associação, Ernest Christian Bowes, o projeto 40/2022, que foi aprovado na Câmara Municipal de Salvador alterando o nome da antiga Rua da Laranjeiras, não ouviu a sociedade, “desconsiderando a voz dos moradores. Para mim a Rua das Laranjeiras tem que continuar, Alaíde merece muito ser homenageada mas poderíamos buscar outra forma, com uma placa ou um busto em memória a história dela”, afirmou.
A audiência foi presidida pela promotora de Justiça Eduvirges Ribeiro, e contou com a presença dos advogados João Jorge Santos Rodrigues e Henrique Arruda, representando os familiares de Alaíde do Feijão; Silvio Portugal, presidente do Conselho Estadual de Cultura; além de familiares de Alaíde do Feijão e integrantes do movimento negro. Na ocasião, houve ainda uma apresentação acerca da histórica da Rua das Laranjeiras, feita pelos historiadores do Nudephac Miguel Soares e Milena Pinilo. A Rua das Laranjeiras, que leva essa denominação desde 1760, está localizada em área tombada pelo Iphan, em região de interesse público e protegida por parâmetros legais estabelecidos no Decreto Lei nº 25/1937.
“O nome de Alaíde do Feijão é um patrimônio imaterial. Agora temos o nome de uma mulher no centro histórico que vai trazer legitimidade histórica, uma mulher lutadora e combatente”, ressaltou o advogado João Jorge Rodrigues. Alaíde Conceição, mais conhecida como Alaíde do Feijão, nasceu no bairro do Comércio, em Salvador. Filha de Maria das Neves, herdou da mãe os talentos culinários e seguindo os seus passos, manteve viva a tradição da matriarca, com a venda dos quitutes e pratos diferenciados. Em 1993, abriu seu primeiro restaurante no Centro Histórico, ampliando assim a variedade de refeições em seu cardápio. Em 2015, mudou-se da Ladeira da Ordem Terceira de São Francisco, para a Rua das Laranjeiras, no Pelourinho. Era também uma importante líder do movimento cultural negro e antirracista. Morreu aos 72 anos, no início deste ano, em razão de complicações da Covid-19.
Credito das fotos: Sérgio Figueiredo
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